domingo, 28 de junho de 2009

Dois Copos e Um Conto II

Um pouco tarde, bem é verdade, mas ainda é domingo.
Sendo assim, estou em dia com minha promessa.
Hoje, mais dois capitulos, espero que gostem.


Capítulo 2

Não se fazem mais pensamentos como antigamente.


Capítulo 3

A noite está fria, o que é comum nessa época do ano. Mesmo o verão tendo o seu recesso mundial há menos de um mês. Contudo, a noite está agradável. O orvalho e a neblina densa, que se vê cobrindo a montanha, deram um tempero nórdico ao entardecer.
Pois bem, traga-me outra dose – por conta da casa – que contarei minha história. Quer entendê-la, ou quer a verdade? Pouco importa afinal, mesmo a verdade é uma para cada um, e no fim, nenhuma é realmente absoluta. Em todo caso, preste atenção, e não me deixe ficar tenso, por favor. E por Deus, troque essa musica. Olhe ao redor, ninguém gosta mesmo dela!
Olhe ali, no canto do bar. Aquele velho senhor, sozinho em seu copo de whisky, se embriagando em pensamentos. Ele vem aqui todos os dias. E todos os dias ele bebe, até que a madrugada engula suas forças e reflexos, e o force a seguir sozinho – nós supomos – para casa. Não é isso mesmo o que acontece garçom? Leitor?
Qual de vocês aqui neste bar nunca se perguntou o que se passa na cabeça do velho Heikel? Que atire o primeiro copo – vazio – aquele que nunca desejou o dom de ler os pensamentos alheios! Quem é mais vazio; os copos arremessados contra mim, ou as pessoas que os arremessaram? O paradoxo está no fato de ninguém ter arremessado. A não ser você, não é mesmo, leitor? Se sentir desinteresse, peça mais uma dose – por minha conta – pois o que lhes conto é mais que um conto.
É com imensa alegria que lhes revelo meu triste segredo, senhores. Eu leio pensamentos!


(Wesley Buleriano)

sábado, 27 de junho de 2009

Conta Comigo (Stand By Me)

[...]

Voltamos para casa, e, embora nossas cabeças estivessem repletas de pensamentos, falamos pouco. Andamos durante a noite, e chegamos de volta a Castle Rock um pouco depois das 5 da manhã do domingo, um dia antes do dia do trabalho. Tínhamos ficado fora só dois dias, mas de alguma forma a cidade parecia diferente, parecia menor.

O tempo passou, e cada vez vi menos Ted e Verner. Até que eventualmente se tornaram apenas mais duas caras pelos corredores. Isso acontece às vezes. Amigos entram e saem da vida da gente, como garçons num restaurante.
O Verner se casou, saiu do colegial, teve quatro filhos e agora é operador de empilhadeira.
O Ted tentou várias vezes entrar no exército, mas a sua vista e o seu ouvido o deixaram de fora. A ultima notícia que tive, foi que ele passara um tempo na prisão, e que agora fazia pequenos serviços em Castle Rock.

O Chris conseguiu sair (de Castle Rock). Fez o colegial comigo, e, embora tenha feito muito sacrifício, conseguiu o que queria; cursou a faculdade, e, eventualmente, se tornou um advogado.
Na semana passada ele entrou em um restaurante tipo ‘self service’. Na frente dele, dois homens começaram uma discussão. Um deles puxou uma faca. Chris, que sempre foi de boa paz, tentou separá-los; foi esfaqueado no pescoço. Morreu quase que instantaneamente.
Embora eu já não o visse a mais de dez anos, sei que terei saudades dele para sempre.

Eu nunca mais tive amigos como os que eu tive, quando tinha doze anos. Meu Deus, e alguém tem?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sentido de ser/estar

O que me faz escrever é o mesmo que me faz respirar.
É automático, é essencial em minha vida. É alimento para mim.
É acordar feliz e eternizar. É acordar depressivo e desabafar.
É estar no lugar errado, na hora certa, fazendo a coisa certa com a pessoa errada.
Não há nada que não possa ser escrito. Mas nem tudo significa, como nem todos entendem.
Escrever é como o bater de asas de um pavão.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

(Paulo Leminsk)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Brincando com as Palavras - NeoConcretismo

Á!
Eu
Sei.
Você
Nunca
Saberá!
Desista!
Vaidade
Apenas.
Seria
Tudo
Seu.
Só!
E?


_______________________________________________________


Matematisticamentizado

dois
dividido por...... igual a um

dois



(Wesley Buleriano)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ante-amor

Por vezes, as pessoas que não tem o hábito de ler poesias pensam que um poeta só escreve sobre um amor inalcançavel, impossível, ou que deu errado (leia-se dor de cotovelo).
Bom, se lerem minhas outras poesias, verão que meu foco é outro, meu estilo é outro.
Mas, para não dizer que não falei de flores...


Teoriamor

São por esquinas, quinzenas, canais,
Que o jogo de amor dos mortais,
Invade o inverno do corpo.
Apaga o inferno em um sopro,
Sufoca a angústia de amar,
E arde em gelar. Assombroso!

Cortante, singelo, impetuoso.
Dois dedos de corpo e suor,
Incendiando esse olhar caloroso,
Com libido e tesão bem maior.

Dilacerado em pedaços de nada,
De um peito invadido sem dó.

Apenas as penas de um pássaro,
derrubado, cruel, a pedradas.

(Wesley Buleriano)

domingo, 21 de junho de 2009

Dois Copos e Um Conto

É, ao contrario do que parece, esse blog não está morto.
Todos os domingos, a partir de hoje, postarei um capítulo de um conto meu.
Aos que gostam de ler; boa leitura.
Aos que não gostam, Gugu e Faustão.


Dois Copos e Um Conto.

Capítulo 1


Talvez o simples ato de existir seja inexplicável. Talvez o simples ato de existir nem seja tão simples assim afinal. De todo modo, buscar a resposta, assim, no nosso íntimo, é sempre mais fácil.

Talvez explicar a existência seja mais simples do que entendê-la. Ou mesmo entender a si, e aos outros. Entender o que se passa em nossa cabeça, em nossos pensamentos. Pensar o que pensam, quando vimos um rosto pela primeira e última vez, em uma fração de segundo, entre o sinal fechado e o torque. E o toque das notas altas, em acordes desafinados – ah, os acordes – dessa orquestra de pedras e aço.

É como a sinfonia do caos, com aroma de petróleo, e brisa de minério. O doce cheiro da vingança, no olhar do vendedor de balas no ônibus. Ah, como queria olhar com aqueles olhos, e pensar com minhas próprias pernas. Meia dúzia de balas? Aceita minha dignidade, em troca de alguns centavos e um pouco da sua paciência?
Bom, eu desço mesmo aqui, fica para a próxima – mesmo ambos sabendo que não haverá uma próxima – obrigado.

Pensando bem, melhor não pensar nisso. Eu sigo o meu caminho, e o ônibus que vá ao ponto final – talvez um outro terminal – e traga outros rostos desconhecidos para mim. Não tornarei a vê-los novamente mesmo.

Pensar que penso o tempo todo cansa. Mas cansado mesmo fiquei por pensar o que pensam. Antes pensava que o pensamento era algo só meu, pois não ouvia ninguém pensar. E tu, que pensara que eu era louco. Louco és tu, leitor, que pensas que não é!

[...]

(Wesley Buleriano)